Joana Angélica “não lutou pela Bahia”, afirma historiador em análise sobre o 2 de julho

Em episódio especial do PolitiQuestion, Murilo Mello analisa a construção dos heróis baianos e a politização da data ao longo dos séculos

Neste 2 de julho, enquanto Salvador se enche de cores, música e manifestações cívicas, o PolitiQuestion lança um episódio essencial para compreender os bastidores da data mais emblemática da Bahia. Com participação do historiador Murilo Mello, o podcast desmonta a imagem idealizada dos heróis da Independência e mostra como a memória histórica foi moldada por interesses políticos, culturais e até científicos.

A Independência da Bahia, consolidada em 1823 após um ano de conflitos, é frequentemente associada a figuras como Maria Quitéria, a soldado que se disfarçou de homem para lutar; Joana Angélica, a freira mártir; e o caboclo, símbolo máximo da resistência popular. No entanto, como explica Mello, essas narrativas são fruto de séculos de reconstrução histórica.

Sobre o caboclo, Mello explicou: “Quem é o cara genuíno aí na visão daquele povo naquela época? É o homem da terra, é o caboclo, é o indígena, é o nativo. O senhor da mata, ele é responsável pela vitória e não as pessoas físicas que estiveram estavam na batalha […] É a figura mítica, é a figura da mata. Ela nos protegeu ali nas batalhas, em Pirajá, em uma série de batalhas. Então a gente traz essa religiosidade”.

Já Maria Quitéria, hoje patronesse do Exército Brasileiro, teve sua história romanticamente comparada à de Mulan. Sua trajetória foi amplificada para servir como símbolo de bravura. Durante a conversa os apresentadores e o entrevistado comentaram notícias recentes, porém, que revelam que Tanto Maria Quitéria quanto Joana Angélica eram donas de escravos, um detalhe que reflete a complexidade de mitificar personagens históricos.

De acordo com o historiador, “Se pega a imagem de Joana Angélica e se constrói ela politicamente. Sempre pegam a história por interesses políticos. Pegaram Joana Angélica, que não lutou pela Bahia. Joana Angélica se colocou na defesa das suas companheiras de convento. Ela não lutou por Bahia nenhuma“.

A politização da data também é tema central. Desde o século XIX, o 2 de julho serve como termômetro para a popularidade de governantes. Jornais da época já registravam vaias e aplausos a políticos durante os cortejos. Em 2025, a presença de Lula na festa reforça essa tradição, que mistura cultura, religião e estratégia eleitoral.

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